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Aldo Rebelo, o antiambientalista

O assunto desse texto é a falta de bom senso e seriedade de muitos de nossos políticos, e na minha opinião nada exemplifica isso melhor do que as alterações que estão sendo propostas ao Código Florestal e as atitudes e propostas do relator do afamado Projeto de Lei 1.876/1999 (substitutivo do Código Florestal), Deputado Aldo Rebelo (PcdoB-SP).

No texto introdutório de seu parecer sobre a nova lei, o deputado demonstra que não tem simpatia por ONGs e ambientalistas, ou seja, temos uma lei de alto teor ambiental, sendo trabalhada por um relator, que sem disfarces, tem muitos preconceitos contra o tema e principalmente contra quem se volta a favor do meio ambiente. Isso é ter bom senso? Esse é o homem certo para coordenar propostas de modificações em uma lei tão ampla e importante para todos? Não seria melhor um político de visão ampla e conciliadora?

O deputado Aldo diz em seu texto que o respeito á natureza está muito alto, está ficando acima do homem. Protege o antropocentrismo e acusa os ambientalistas de serem os causadores da desgraça social e econômica no mundo. Tudo isso com foco na idéia de que atualmente o respeito à natureza se tornou tão extremo que hoje é impossível o homem ter condições de progredir e sobreviver, ou seja, o progresso só existe com degradação. O conceito de sustentabilidade ambiental é totalmente desacreditado por Aldo Rebelo.

Ainda mais indignante é a forma como o Deputado Aldo se apóia na religião para liberar qualquer atividade sobre a natureza, como se Deus concordasse com atividades degradantes, como se atualmente a religião, principalmente a igreja Católica, não apoiasse totalmente a conservação e o respeito a natureza, prova disso é o tema ambientalista da atual Campanha da Fraternidade “A criação geme em dores de parto”.

A falta de bom senso e o preconceito descarado contra ambientalistas ficam evidentes na forma como o Deputado Aldo exemplifica o que julga ser o pensamento básico dos ambientalistas: “Que os pobres deixem de nascer, deixem a natureza em paz, é o credo básico que professam.”

A visão sobre a Amazônia e sua importância é o que considerei mais chocante no parecer do Deputado Aldo Rebelo. A Amazônia é tratada como algo praticamente inútil na forma de floresta. Como se nenhuma riqueza pudesse ser gerada da floresta propriamente dita. Partes do livro Geografia da Fome de Josué de Castro são transcritos no parecer e demonstram claramente a visão antiambientalista e principalmente antiflorestal:

“Assim se apresenta o caso da conquista econômica da Amazônia: luta tenaz do homem contra a floresta e contra a água. Contra o excesso de vitalidade da floresta e contra a desordenada abundância da água dos seus rios. Água e floresta que parecem ter feito um pacto da natureza ecológica, para se apoderarem de todos os domínios da região. O homem tem que lutar de maneira constante contra esta floresta que superocupou todo o solo descoberto e que oprime e asfixia toda a fauna terrestre, inclusive o homem, sob o peso opressor de suas sombras densas, das densas copas verdes de seus milhares de espécimes vegetais, do denso bafo de sua transpiração. Luta contra a água dos rios que transformam com violência, contra a água das chuvas intermináveis, contra o vapor d’água da atmosfera, que dá mofo e corrompe os víveres. Contra a água estagnada das lagoas, dos igapós e dos igarapés. Contra a correnteza. Contra a pororoca. Enfim, contra todos os exageros e desmandos da água fazendo e desfazendo a terra. Fertilizando-a e despojando-a de seus elementos de vida. Criando ilhas e marés interiores numa geografia de perpétua improvisação, ao sabor de suas violências”.

A abertura de terras na Amazônia é tratada como se fosse dar aos povos da floresta melhores condições de vida. Como se os índios e ribeirinhos quisessem a todo custo sair da floresta e viver no “conforto” das cidades, pois para o Deputado Aldo não existe conforto ou vida com qualidade em meio à natureza. Como se povos acostumados ao meio natural precisassem do urbano. Como se a abertura de novas terras fosse ajudar os pobres e não os ricos.

Em todo o parecer é demonstrado a falta de conhecimento sobre desenvolvimento da ciência, sobre genética, sobre o uso da floresta para turismo, manejo sustentável, pesquisa, formação da indústria farmacêutica, aplicações educacionais e científicas, tudo isso é inexistentes para o Deputaeo Aldo e sua proposta.

O assunto Amazônia e seu uso para pecuária e agricultura já foi muito discutido e de forma geral é um consenso que a maioria do solo amazônico perderia toda sua fertilidade natural rapidamente com a retirada da floresta, são solos arenosos e que recebendo as chuvas equatoriais se desgastariam facilmente. Abrir a Amazônia para criar gado, plantar cana e soja não parece absurdo para o Deputado Aldo Rebelo, mas cientificamente é um fato há muitos anos.

A importância da biodiversidade é inexistente no parecer, sendo assim, vamos recordar que a biodiversidade é importante para o equilíbrio ambiental, como parte da química de remédios, como o uso de futuros alimentos (novas espécies), como matéria prima industrial, polinização, formação do solo, desenvolvimento de tecnologias genéticas para diversas áreas, além de várias importâncias indiretas e até desconhecidas.

A visão contida no parecer é que a diversidade biológica amazônica não representa lucro imediato e por isso deveria ser abolida. O progresso tem que ser rápido e não sustentável.

Como ambientalista e brasileiro me sinto insultado pela proposta redigida pelo Deputado Aldo Rebelo e gostaria de deixar registrada minha repugnância pelos conceitos retrógrados e inconsequentes que podem ocasionar o maior retrocesso legislativo e ambiental do Brasil.

Fonte – André Sampaio, Engenheiro Florestal – Sociedade Chauá de 03 de maio de 2011

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