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Lixo e produtos químicos poluem riachos de Maringá

 

O Diário do Norte do Paraná de 04 de julho de 2009

Vanda Munhoz

Não há exceções: os córregos que passam pela área urbana estão poluídos, tanto pelo que é jogado nas ruas, como pelas descargas clandestinas de esgoto nas galerias pluviais

Plásticos, pneus, lixos domésticos, restos da construção civil e corpos de animais são apenas alguns dos materiais visíveis nos leitos das águas na área urbana de Maringá.

Mandacaru, Diamante e Moscados, por exemplo, além de acumularem esses lixos, também têm problemas com erosão e produtos químicos menos evidentes a olho nu.

O perímetro urbano tem 32 córregos e ribeirões. E não há exceções à degradação: a variante é apenas quanto ao nível de poluição, pois uns estão mais sujos e outros menos.

O ambientalista Cláudio José Jorge, presidente da ONG Funverde, que todos sábados à tarde faz uma ronda pelos cursos d’água do município, não tem nenhuma dúvida que todos rios da cidade estão poluídos.

Não fazemos ronda, plantamos árvores nativas desde 2004, no PROJETO MATA CILIAR FUNVERDE.

Numa rápida visita aos córregos Mandacaru e Maringá, na quinta-feira, a reportagem e Jorge não precisaram caminhar mais do que alguns metros às suas margens para encontrar grande quantidade de materiais poluentes.

“Este aqui é o lixo que as pessoas jogam nas ruas e vem parar no rio através das bocas de lobo”, disse, apontando para uma galeria no Mandacaru, na qual um galho de árvore ajudava a conter sacos plásticos, pedaços de pano, latinhas de bebidas e garrafas PET.

Química no Cleópatra

O córrego Cleópatra, que recebe as águas do Moscado e do Betty – eles nascem no Parque do Ingá e no Horto Florestal, respectivamente -, também apresenta sinais de poluição química, além de muito lixo urbano.

A pouco mais de 100 metros da ponte sobre ele, no Contorno Sul, no domingo passado foi possível ver uma tubulação jorrando um liquido fétido de cor esverdeada. Em contato com a água do córrego, o liquido produzia muita espuma. Nas proximidades, à parte alta da margem esquerda, existem várias empresas.

Dona Tereza Saugu da Cunha, de 73 anos, que reside em uma chácara próxima ao córrego Maringá, depois do Conjunto Ney Braga, contou que “jogam resto de construção ali perto da ponte”, na rua Gralha Azul.

“Tem até resto de carcaças de bois. Acho que são jogadas por açougues da cidade. Depois, fica muito mau cheiro”, reclamou. Ali mesmo no Ney Braga, Jorge mostra uma nascente muito próxima do asfalto: “Aqui, pavimentaram sem respeitar a distância prevista em lei, que são 50 metros das nascentes e 30 metros dos cursos d’água”. A nascente fica a menos de 15 metros do asfalto.

Cerca nos vales

A Prefeitura de Maringá está desenvolvendo estudos para identificar os principais poluidores dos rios da cidade. As ligações clandestinas de esgoto nas galerias pluviais – que acabam nos cursos d’água, são transgressões muito comuns às leis ambientais.

Os suspeitos são, em grande parte, empresas sem sistema de tratamento de efluentes, como postos de combustíveis, lavanderias, lava-jatos e outras.

“Há empresas que não têm um sistema de gerenciamento de resíduos, falta caixa de tratamento antes de lançá-los no ambiente”, disse Sérgio Antônio Viotto Filho, diretor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Sem tratamento, explicou Viotto, os resíduos químicos reagem em contato com a água e ambientes úmidos como as galerias e liberam odor forte, espuma, além de mudar a coloração da água.

“A maior preocupação é com efluentes compostos por metais pesados, como o cromo, chumbo, mercúrio e com os óleos industriais”. A secretaria não tem estimativas de quantas ligações clandestinas existem na cidade, mas espera que os estudos que estão em andamento apontem a quantidade aproximada e, assim, seja possível uma fiscalização mais eficiente.

Despistar a fiscalização

Segundo Viotto, as grandes empresas poluentes usam de artifícios para enganar a fiscalização. “Eles lançam os efluentes durante a madrugada de forma que, até chegarem ao rio onde serão constatados, já se apagaram os rastros da origem”.

Disse que na maioria das vezes, os poluidores lançam os efluentes na sexta-feira, quando os órgãos fiscalizadores estão com o efetivo reduzido. “Na segunda-feira, já fica difícil identificar o emissor, mas quando ele é localizado, é notificado e depois multado”.

Mas, apesar de tudo, disse que ainda “existe vida nos córregos de Maringá. É possível ver peixes pequenos. O que precisa é conscientização da necessidade de preservar”.

Pois é, esses pobres peixes devem ter a aparência dos peixes da lagoa dos simpsons, com três olhos, de tão poluídos que estão nossos rios.

Objetivando a preservação de rios e córregos, a prefeitura está cercando todos os fundos de vale, que somam cerca de 70 quilômetros no perímetro urbano e servem como corredor ecológico para a fauna da região.

Sério? Quando, onde, como? Mostrem ao menos um local onde a prefeitura cercou fundo de vale nos últimos 5 anos. Fotos, por favor.

O projeto também propõe o plantio de espécies nativas e frutíferas, mas o presidente da Funverde reclama que a fundação tem 5 mil mudas de 400 espécies prontas para replantar, mas não consegue ajuda: “Pedimos para a prefeitura abrir as covas, mas não conseguimos nada”, reclamou Jorge.

Queremos também saber quantas árvores a prefeitura plantou desde 2005, nos fundos de vale e nascentes, porque eles tem até um departamento para cuidar especificamente de fundos de vale, mas … tudo continua como dantes no quartel de abrantes. Isto é, não plantam nada, tudo conversa fiada.

Queremos ver no site da prefeitura as fotos dos plantios do departamento de fundo de vale deles, os mapas, afinal, nós mostramos com o maior orgulho nosso trabalho voluntário que se desenvolve há 5 anos, todos os sábados, de março a novembro, com plantio de árvores nativas e frutíferas nativas. Será que eles vergonha do trabalho que desenvolvem? Não, na verdade é que eles não tem o que mostrar.

Crianças faziam ‘tanquinho’

Dona Tereza Saugu da Cunha (foto), que passou 34 dos seus 73 anos de vida numa chácara ao lado do córrego Maringá, pouco depois do Conjunto Ney Braga, conta que antigamente “tinha pescadores de lambaris e cascudos nos rios, e as crianças faziam uma espécie de ‘tanquinho’ com pedras dentro da água para brincarem”.

Hoje, recorda enquanto cuida do orquidário, “a água é cheia de produtos químicos”. Até a fauna, segundo ela, está mudada. “Havia muitos frangos d’água, mas as pessoas mataram todos, hoje não existe mais nenhum”.

Perto da entrada da chácara, havia muito lixo junto a um terreno baldio, a cerca de 200 metros do leito do Maringá: sofás velhos, pneus e sacos plásticos com lixo doméstico contradiziam a placa com os dizeres “não jogue lixo”.

Multa ambiental pode chegar a R$ 1 milhão

A grande maioria das multas ambientais aplicadas pela Prefeitura de Maringá se baseia no Artigo 24 do Decreto Municipal 1358/2002, que regulamenta duas leis federais complementares, a 09/93 e a 9605/98. Se o responsável pelo crime ambiental persistir na conduta, as multas dobram de valor e a empresa pode até ser embargada pelo Município. Os valores previstos variam de R$ 5 mil a R$ 1 milhão.

O Código Florestal Federal manda preservar os fundos de vales, mantendo um espaço de, no mínimo, 30 metros ao longo dos leitos dos rios, onde não se pode ter edificações ou devastar a mata nativa. A área de mata ciliar varia conforme a largura do rio. No caso de nascentes, são necessários de 50 a 150 metros de área de preservação ambiental.

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