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Piada do polietileno verde (piadinha sem graça para a humanidade)

 

Deeble – foto de queimada de canavial

Lemos hoje no portal terra na página do mercado ético – sua plataforma global para sustentabilidade a seguinte notícia, empresa brasileira produzirá plástico biodegradável em larga escala.

Já estamos nos irritando com tanta publicidade em cima de um crime ambiental e pior, enganosa.

Primeiro que o título já está incorreto, porque este plástico é não é biodegradável, só vai se decompor após 500 anos, exatamente como plástico tradicional eterno, só troca a origem da matéria prima, que ao invés de vir do petróleo vem da cana de açúcar.

Depois, sinceramente, quando um faminto pedir um prato de comida para você, você irá dar uma sacola de polietileno verde para ele se alimentar a matar a fome? Qual o sentido de se usar terra fértil e água, recursos naturais cada vez mais raros para plantar cana para fazer plástico e que ainda irá durar 500 anos? Resposta, mais lucro para a bras quem? e nada de comprometimento desta empresa com o planeta, como sempre. Esta empresa pratica o capitalismo selvagem, isto é, lucro sem responsabilidade ambiental.

Acorde, não caia neste conto de fadas do polietileno pretensamente verde da bras quem?

Mesmo o plástico de amido, que é biodegradável em ambiente biologicamente ativo, isto é, composteiras ainda é um crime contra a humanidade e o planeta, pois exaure o solo, utiliza água para plantar batata, mandioca, milho e outros alimentos que deveriam estar alimentando a humanidade e não sendo utilizados para fabricar sacolinhas que serão utilizadas por no máximo meia hora.

Sacolas plásticas de uso único tem que ser banidas, relegadas ao esquecimento como uma infeliz invenção da humanidade. Essas  malditas sacolas demoram um segundo para serem fabricadas, são utilizadas por meia hora no máximo e depois ficam por aí, 500 anos assombrando a humanidade com sua poluição. Lembre-se de que as sacolas plásticas de uso único correspondem a 50% de todo o plástico fabricado e que o plástico corresponde a 20% de todo o lixo recolhido – ou jogado fora – todos os dias em todo o planeta.

Quanto ao plástico para outras aplicações, esse tem que ser plástico oxi-biodegradável, que em um ano e meio já terá se oxi-biodegradado, decomposto, voltado ao solo como se nunca tivesse existido. Estamos falando de plástico para envolver carnes no açougue, para embalar pão, sacos para frutas, legumes e verduras, plástico flexível – aquele que vem protegendo a bandeja de isopor que também deve ser oxi-biodegradável que tem dentro 5 fatias de presunto e que será consumido em apenas uma refeição -, afinal, qual o sentido em você comprar um iogurte, tomar em 5 goles e depois o recipiente do iogurte ficar de herança para seus descendentes?

Leia abaixo textos técnicos que se aplicam ao plástico feito de comida.

Cana-de-açúcar como matéria prima de fonte renovável: De acordo com Fioravanti (Fioravanti C. Mais alimento e florestas no ar – erosão e poluição. São Paulo: Revista Fapesp número 148, páginas 43-45, julho de 2008), os métodos de produção de cana-de-açúcar no Brasil ainda se assemelham àqueles utilizados há aproximadamente cinco séculos, embora a produtividade tenha aumentado. Lavouras são estabelecidas devastando-se florestas nativas. A fumaça das queimadas, antes do corte da cana, agrava doenças respiratórias, tais como asma, especialmente em crianças e idosos. Outros efeitos são a erosão e a compactação dos solos, e a poluição dos rios com fertilizantes e resíduos da produção do açúcar e do álcool. O modelo de produção da cana está longe de ser ambientalmente sustentável, embora a cana seja uma fonte de matéria-prima renovável. Para cada litro de etanol, são produzidos 10-12 litros de vinhaça, um resíduo marrom de aroma forte, corrosivo e rico em matéria orgânica, cujo destino é incerto, uma vez que poucas plantas são capazes de usar como fertilizante para cana-de-açúcar toda a vinhaça que produzem. O cultivo polui os rios da mesma forma que o esgoto orgânico o faz, causando eutrofização da água, com depleção do oxigênio dissolvido e mortandade de peixes. Na época das queimadas (novembro-abril), as admissões hospitalares aumentam em três vezes, devido a problemas respiratórios. As partículas transportadas pelo vento e pela chuva contêm resíduos de pesticidas, inclusive alguns que já foram banidos, mas que ainda são usados. As tecnologias de plantio intensivo, certamente as favoritas entre as grandes companhias, que adoram altos lucros a curto prazo, empregam fertilizantes e pesticidas em altas concentrações, os quais conduzem ao contínuo envenenamento do solo e da água. O uso intensivo da terra causa erosão e compactação, com a conseqüente perda de solo. A mão de obra empregada é paga miseravelmente, e está sujeita a condições de trabalho quase desumanas.

Observa-se que as condições acima também se aplicam a todos os biopolímeros e até aos biocombustíveis. Uma avaliação integral do ciclo de vida torna-se necessária.

Tecnologia para produção de etileno a partir de etanol: De acordo com Garcia (Garcia, CB. Mercado de gás natural dos setores químico e termo-elétrico para os próximos dez anos no Estado da Bahia. Dissertação de mestrado, Universidade de Salvador – Departamento de Engenharia e Arquitetura, Salvador, 2005, 223 p.), na década de 1980, a Salgema (unidade posteriormente incorporada à Braskem) tinha uma planta de etileno a partir da desidratação do etanol obtido da cana-de-açúcar, em Maceió, Alagoas. Esta planta foi construída em um período de encorajamento governamental ao etanol (Programa Pró-Álcool), mas foi fechada no início da década de 1990, por falta de competitividade em relação ao etileno produzido da nafta. Em 2000, esta planta estava abandonada e pesadamente erodida pela atmosfera marítima de Maceió. Contudo, a partir de 2004, com os preços do petróleo alcançando o nível de US$ 60 o barril, houve uma elevação no preço da nafta, que reduziu a diferença de custos entre as duas rotas produtivas. Além disso, a crescente produtividade por hectare na produção de cana e o uso de produtos verdes de fontes renováveis auxiliaram a tornar possível a produção de etileno a partir do etanol.

A planta de polietileno verde: Esta planta foi celebrada recentemente pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, por ter sua instalação decretada neste Estado. Para receber a planta, o governo do Estado teve de renunciar a impostos, deixando de recolher valores que poderiam trazer significativos melhoramentos sociais e econômicos. A planta produzirá 200 mil toneladas anuais de polietileno em 2010 (já se fala em 2011) e custará 160-200 milhões de dólares, gerando apenas 100 novos empregos diretos. A fonte de energia será baseada na queima de carvão gaúcho, que possui cerca de 50 % de cinzas e quantidades significativas de enxofre.

O produto polietileno verde: Braskem costuma não mencionar aos clientes, quando faz propaganda de seu polietileno verde, que o material não é biodegradável, sendo idêntico ao polietileno comum, exceto pelos isótopos de carbono 14. A companhia tem promovido apresentações e seminários, além de visita a clientes, por todo o país. De acordo com alguns comentários obtidos na internet, como o “polietileno verde” não é biodegradável, os resultados se resumem em remover o carbono da cana de açúcar (obtido com toda a poluição inerente para convertê-lo em polietileno comum) e depois depositá-lo, mais tarde, principalmente em aterros sanitários brasileiros, ou na rua, nos solos e águas, etc.

Há muito a imagem ambiental da Braskem, representada pela Plastivida, estava muito deteriorada. Surpreendentemente, e milagrosamente, sem que se tivesse qualquer notícia prévia sobre interesse, atividades e parcerias com instituições nesse sentido, surgiu o polietileno verde, a partir do nada, para salvar a imagem ambiental da Braskem, provando que a empresa sempre estivera comprometida com o ambiente. Falou-se que esse projeto era um dos dois grandes projetos da companhia (juntamente com o de nanocompósitos, cujo resultado também não se viu no mercado, apenas na mídia). Falou-se que o polietileno verde foi desenvolvido pelo centro de tecnologia da empresa com cinco milhões de dólares até o nível de planta piloto. O produto foi “certificado” pelo laboratório Beta Analytics (Florida, EUA). Na realidade, o certificado não declara nenhum produto como “verde”, apenas declara o óbvio, isto é, que a matéria-prima era de fonte renovável, afinal foi obtido da desidratação do etanol da cana-de-açúcar.

Tudo isso parece mostrar que o real interesse da companhia não é outro senão sobreviver, crescer e perpetuar-se a qualquer preço. Com lucro, muito lucro, obtido sabe-se lá com que métodos.

Por mais que se esforce em ter uma imagem verde, a Braskem nunca pareceu realmente interessada na preservação ambiental. Sua única motivação parece ser o lucro elevado ao infinito, e sem limites. Recentemente, a companhia Odebrecht, controladora da Braskem, foi chamada de corrupta e corruptora pelo presidente do Equador, sendo banida daquele país. Investigações também estão sendo conduzidas na Venezuela, por sonegação de impostos. No Brasil, há muitas notícias de corrupção envolvendo a companhia Odebrecht, reportadas em jornais e revistas. A mesma parece ter facilidade em obter apoio de políticos, sindicatos e outras associações, em defesa de seus interesses.

O lado positivo de tudo isto é o reconhecimento da companhia de que todos os outros produtos por ela manufaturados não são realmente verdes: devem ter outras cores, tais como preta, cinza, marrom, roxa… Já é alguma coisa: é o reconhecimento de que poluem, e de que a reciclagem não consegue impedir a poluição, pois não funciona com as sacolas plásticas descartáveis.

Este Post tem 5 Comentários

  1. Olha, só ouço todos falarem que o plastico é um vilão… Mas, o que dizer de nós? Que não fazemos o devido descarte desse material, pois o mesmo pode ser tranformado em outros produtos, falo de reciclagem. Mesmo se todas as sacolas plasticas fossem substituidas por pano, viriam toda uma investigação de como a mesma é produzida, os boeiros das ruas não deixariam de serem obstruidos por essas sacolas. Enfim, o mal só mudaria de endereço. Sou a favor de um descarte ordenado dos nossos lixos, e junto com incentivos e investimentos do governo, esses materiais seriam reaproveitados ou corretamente destruídos.

  2. O polietileno verde não é matéria prima somente para sacolas plásticas. O polietileno verde não é o único produto da Braskem e portanto não devemos avaliar a empresa ambasando-se em um único produto.
    Um dos preceitos para a sustentabilidade empresarial é utilizar-se de matérias primas mais adeuqadas para se produzir um produto, não estou dizendo que talvez a cana de açucar seja o mais adequado aqui para o Brasil, mas já é uma alternativa ao Petróleo.

    Acho que uma análise mais cuidadosa é necessária para avaliar as negatividades e positividades ambientais do Produto da Braskem.

  3. lembrando que até mesmo a substituição do petróleo pela cana-de-açúcar, muito provavelmente, é mais lucrativa pra empresa…

    Porém, concordo com o Davyson sobre o devido descarte e reciclagem deste material, já que o utilizamos. Mas podemos pensar também em uma redução de consumo. Os supermercados na Alemanha vendem o “produto” e se vc não quiser levar tudo na mão, tem que levar de casa uma bolsa ou sacola.

    Já no Brasil…

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