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Pimentão contém mais agrotóxico, afirma anvisa – cadê meu zap?

lucyinthesky

Luiz Eduardo Cheida

Estávamos, meu cachorro e eu, jogando uma partidinha de truco, quando a notícia, qual ave de mau agouro, pousou em cima da mesa:

PIMENTÃO CONTÉM MAIS AGROTÓXICO, AFIRMA ANVISA

– Que falou o ministro Temporão? – rosnou ele.

– Que “já mandei tirar o pimentão lá de casa”. – respondi.

– Bati! – gritou meu cão.

– Como, bateu? Isso é jogo de truco, cãopadre…

– Bati a canela na mesa – lamentou-se, começando a lamber aquela parte da perna.

Era assim que o caldo entornava quando, na asinha da noite, depois de um dia suado, chegava uma e outra notícia dessas.

Quem poderia pensar? Em uma escala de zero a cem, o pimentão ficava com 64,36% de agrotóxico; o morango, com 36,05%; a uva, com 32,67%, a cenoura, com 30,39%, a alface, com 19,8% e o tomate, com 18,27%. E, agrotóxicos proibidos, como o ometoato, encontrado no abacaxi ou o metamidofós, usado no tomate, já proibido em dezenas de países e liberado nesta Terra de Santa Cruz, valha-me, Senhor!

– É osso duro de roer! – blasfemei entre os dentes.

Mas, descartando um asmático ás de espadas, foi ele quem filosofou:

– De notícias tão ruins, até que eu extraí um caldinho de coisa boa: a ANVISA divulgando lista de alimentos com veneno. Você já tinha visto isso? Enfim, há vida inteligente naquele planeta.

Cobri o magricela ás de espadas com um estufado 2 de ouros. E, tornei. Não gasto vela com defunto ruim.

Meu cão e eu tocamos uma roça de ameia, aqui no sul do Paraná. Somos 5.300 produtores de orgânicos que, desde há anos, acreditam que o veneno não seja a solução. E esse povinho só vem aumentando:
Há 10 anos, a gente era 300. Hoje, somos 5.300 produtores. Enquanto a safra de orgânicos 1996/1997 foi de 4 toneladas, a safra 2006/2007 foi de 107.230 toneladas. Seguindo-se esta projeção, em 2016, o estado vai produzir 2.980.994 toneladas orgânicos. Então, em 20 anos, terá saltado de 4 toneladas para 3 mil toneladas!

A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica credita essa expansão, em grande parte, ao aumento de custos da agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência dos consumidores por produtos ditos limpos, livres de substâncias químicas ou geneticamente modificadas.

Também é crescente o número dos que consideram que deveriam ser computados aos custos da produção convencional, os valores que a sociedade, indiretamente, paga através da contaminação ambiental e alimentar, perda de produtividade do solo, uso inadequado da água, assoreamento de rios, perda da biodiversidade, êxodo rural, entre outros desequilíbrios que a produção orgânica reduz e até evita.

Já ia alta a lua crescente, borrada por um sujinho de nuvem quando, de um pulo, o cãopadre subiu na cadeira, uivando como um demente:

– Truco! Truuuuuuuuco! – salivava.

– Quero ver, quero ver! – rebati, sem lembrar que não tinha carta nenhuma que pudesse com as dele.

Foi quando, num gesto de total desprezo, ele mandou um 7 de copas, depois um 3 e, de quebra, derrubou na mesa um outro ás.

– Cadê meu zap? – foi a última coisa que choraminguei.

Mas, o cão já ia longe, festejando mais uma surra neste que vos fala, espantando as más notícias, pensando só nas coisas boas que nós ainda podemos fazer por este Brasil.

P.S. O zap é a maior carta do truco. Depois dela, vem o 7 de copas, a espadia e o 7 de ouros. Quando jogamos, meu cãopadre tem a prudência de amarrar seu rabo. Afinal, qualquer manifesta satisfação pode botar a perder toda a ciência desse jogo cheinho de mil astúcias.

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