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Somos todos idiotas em relação à mudança climática

A mudança climática está nos encarando. A ciência é clara e a necessidade de reduzir as emissões que esquentam o planeta tem urgência crescente. Então, por que, coletivamente, estamos fazendo tão pouca coisa sobre o assunto?

Sim, existem obstáculos políticos e econômicos, além de uma forte oposição ideológica a tornar-se ecológico. Contudo, pesquisadores no explosivo campo da psicologia climática identificaram outro obstáculo, arraigado na própria forma com que nosso cérebro funciona. Segundo eles, os hábitos mentais que nos ajudam a navegar pelas demandas práticas locais da vida cotidiana dificultam o envolvimento nos perigos globais mais abstratos apresentados pela mudança climática.

Robert Gifford, psicólogo da Universidade de Victoria, na Columbia Britânica, que estuda as barreiras comportamentais para combater a mudança climática, chama tais hábitos de “dragões da inação” da mente. Temos problemas para imaginar um futuro com diferenças radicais em relação ao presente. Nós bloqueamos problemas complexos sem soluções simples. Não gostamos de benefícios retardados e, assim, relutamos em sacrificar o hoje pelos ganhos futuros. E consideramos mais complicado confrontar os problemas que nos rondam do que as emergências que nos atacam rapidamente.

“É quase impossível criar um problema que seja pior para encarar pela nossa psicologia subjacente”, diz Anthony Leiserowitz, diretor do Projeto Yale sobre Comunicação da Mudança Climática.

Às vezes, quando estamos formando nossas opiniões, nos agarramos a qualquer informação que se apresente, não importa sua irrelevância. Um novo estudo do psicólogo Nicolas Gueguen publicado no mês passado no Journal of Environmental Psychology constatou que participantes sentados num cômodo com um fícus desfolhado ficavam consideravelmente mais predispostos a afirmar que o aquecimento global era verdadeiro do que os presentes numa sala com um fícus com folhas.

Nós também tendemos a prestar atenção a informações que reforcem as coisas nas quais acreditamos e a rejeitar indícios que exigiriam uma alteração de mentalidade, fenômeno conhecido como viés de confirmação. Dan M. Kahan, professor da Faculdade de Direito de Yale que estuda risco e ciência da comunicação, sustenta ser fundamental compreender a intensa polarização política ligada à mudança climática. Ele e seus colegas de pesquisa descobriram que pessoas com uma visão de mundo mais individualista e hierárquica (geralmente conservadores) sentem que aceitar a ciência do clima levaria a restrições sobre o comércio, algo muito valorizado por esse grupo, assim eles costumam desconsiderar provas do risco. Quem tem uma mentalidade mais igualitária e voltada à comunidade (geralmente liberais) são mais propensos a suspeitar da indústria e estão prontos a dar crédito à ideia de que esta está danificando o ambiente.

Existem maneiras para superar tais preconceitos. Kahan mostrou que a maneira pela qual os problemas da mudança climática são apresentados pode afetar nossas visões da questão. Num estudo, ainda não publicado, ele e seus colegas pediram às pessoas para avaliar um estudo científico informando que o clima estava mudando mais rapidamente do que o esperado. De antemão, pediu-se a um grupo para ler uma reportagem defendendo restrições mais severas para o carbono (isto é, uma solução regulatória); um segundo grupo leu uma reportagem pedido um trabalho urgente com geoengenharia, a manipulação das condições atmosféricas (isto é, uma solução técnica); e um grupo de controle leu uma reportagem não ligada ao tema, sobre semáforos. Os três grupos incluíam individualistas hierárquicos e comunitários igualitários.

Em todos os casos, os individualistas, como esperado, estavam menos dispostos do que os comunitários a dizer que o estudo parecia válido. Contudo, a diferença foi 29% menor entre os expostos pela primeira vez à geoengenharia do que entre quem fora incentivado a pensar sobre a regulamentação do carbono, e 14% menor do que no grupo do semáforo. Ao que parece, pensar na mudança climática como um desafio tecnológico em vez de num problema regulatório torna os individualistas mais dispostos a dar crédito à afirmativa científica sobre o clima.

A pesquisa também sugere que a saúde pública é uma perspectiva eficaz. Menos pessoas se importam de forma apaixonada sobre os ursos polares, mas caso se afirme que o fechamento das fábricas que queimam carvão irá reduzir problemas como asma, existe uma maior propensão a se encontrar um público receptivo, afirma Matthew Nisbet, professor de comunicação da Universidade Americana, Washington, D.C.

“Ajustes” menores, igualmente sensíveis as nossas peculiaridades psicológicas, também podem fomentar a mudança. Tirando proveito de nossa preferência pela gratificação imediata, monitores de energia que exibem os níveis de consumo em tempo real cortam a utilização da energia sete por cento, em média, de acordo com um estudo da publicação “Energy”, de 2010. Contar a grandes consumidores de energia o quanto a menos foi utilizado pelos vizinhos os levou a reduzir o próprio consumo, segundo um estudo de 2007 da “Psychological Science”. E trocar nossa preguiça inata pelas configurações padrão também conservam recursos: Quando a Universidade Rutgers mudou a configuração das impressoras para frente e verso, ela economizou mais de sete milhões de folhas de papel num único semestre, em 2007.

O simples fato de apresentar a ciência climática mais claramente não deve mudar atitudes, mas uma melhor compreensão do estranho funcionamento de nossas mentes pode nos ajudar a nos salvar de nós mesmos.

Fonte – Beth Gardiner, NY Times / Planeta Sustentável de 23 de julho de 2012

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