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Consumo sustentável x consumismo – Vidas etiquetadas

Lembro que meu interesse por possuir marcas estampadas nas roupas começou depois dos meus 12, 13 anos. Naquela época, não havia essa abundância atual de etiquetas cobiçadas. Eu queria o sapato London Fog, era uma fortuna, meus pais não tinham dinheiro. Então, minha mãe descobriu uma loja bem longe de casa que vendia um genérico, pegamos ônibus, metrô e compramos um par, fiquei feliz da vida.

A minha felicidade estava em um sentimento de pertencimento, eu fazia parte dos garotos que tinham aquele sapato, tínhamos algo em comum, fazíamos parte de uma tribo bem calçada. Isso aconteceu mais algumas poucas vezes na minha pré-adolescência e adolescência, queria a calca da 775, a mochila da Company, a camiseta da M. Officer…

Num momento de construção de identidade, essas marcas davam a sensação de inclusão comunitária, de pertencer a um mesmo grupo que hipoteticamente tinha os mesmos interesses, ideais, que protegia uns aos outros, uma gangue etiquetada. Naquela época, o processo de virarmos outdoors ambulantes era ainda muito lento e não provocava tantos conflitos familiares e sociais como agora.

Com o tempo, fui refletindo sobre essa maneira de lidar com o status da etiqueta. Comecei a perceber o mecanismo perverso que queria nos fazer acreditar que, ao possuir determinada etiqueta em nosso corpo, éramos mais felizes, inseridos num mundo de vencedores em que seríamos mais respeitados pelos outros.

Ao ter as minhas filhas, comecei a ficar alarmado com a precocidade pela busca da etiquetagem do corpo e da alma, via crianças pequenas surtando com os pais para eles comprarem as marcas desejadas. O desejo sempre mais voraz por essas etiquetas é uma das razões primeiras da violência urbana, cada vez mais presente em nossas vidas. Os ladrões querem possuir as mesmas etiquetas que nós possuímos, eles roubam marcas, e não o objeto em si. E, se for preciso matar para se etiquetar, assim alguns o farão.

O mais louco de tudo isso é que acabamos entrando numa outra roda perversa, famílias e mais famílias se tornaram postes humanos de publicidade não remunerados, bem diferente dos jogadores esportivos, artistas etc…, que ganham fortunas para estamparem seus patrocinadores, nós fazemos isso de graça! Aliás, pagamos para o fabricante para sermos seus garotos(as)-propaganda.

No mundo dos jovens isso faz mais sentido, o adolescente sempre buscou algum jeito para entrar e fazer parte de grupos: penteados diferentes, jaquetas de couro, óculos, tatuagens, brincos… e, nas ultimas décadas, etiquetas. Porem, quando isso desaba na infância, é preocupante, as crianças não deveriam se importar com isso nessa fase da vida. É aqui exatamente que nossa responsabilidade como pais compradores de marcas deveria ser acionada. Seria importante parar e pensar antes de etiquetarmos nossos pequenos filhos.

Fonte – Ilan Brenman, Revista Crescer de setembro de 2013

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