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Entre o pensar e o fazer

O que a metade esquerda do meu cérebro pensa, a metade direita não fica nem sabendo, dizia um amigo meu.

De fato, pensar uma coisa e fazer outra, parece ser a condenação a que foi sentenciada boa parte da humanidade. E essa boa parte fica ainda maior quando o assunto é meio ambiente pois aí sobrevem outra lógica: mim pensar, você executar!

Entre o pensar e o fazer, a distância é astronômica.

Uns, porque, apesar de conhecerem a problemática ambiental, acreditam-na tão gigantesca que, com receio de fazerem pouco, acabam não fazendo nada.

Outros, porque querem agir, mas não sabem o que deve ser feito.

Outro mais, porque crendo-se tão pequenos, imaginam que seu quotidiano nada tem a ver com o que acontece a este planetão grandão gigantão gordão quentão.

Há sempre os que esperam que alguém faça por eles.

Finalmente, há quem nada saiba, sujeito oculto na inocência do próprio desconhecimento. E não são poucos.

Por incrível que pareça, a maioria ainda desconhece que vivemos em uma crise ambiental sem precedentes, a despeito do bombardeio dos meios de comunicação, dos professores na escola, dos chatos da internet (incluindo este que vos fala), da vizinha neurótica que calça sapatinhos no cachorro, e da gritaria de velhos e neoecologistas.

São elas as pessoas mais simples que, por não possuírem meios, ou não disporem de tempo, ou mesmo não compreenderem o que ouvem ou lêem, quando lêem (segundo IBGE, 25% dos alfabetizados brasileiros não entendem o que lêem), mantém-se à margem de qualquer entendimento mais sistêmico.

Apegados mais à tradição do que à premência da mudança de hábito, acabam por respaldar as seculares agressões ambientais de que todos somos vítimas.

E como vão ficar sabendo, a fim de encaixarem-se no rol dos que sabem e não fazem ou dos que fazem e pouco sabem.

Este tipo de brasileiro só vai ficar sabendo se a mensagem chegar até seu casebre, no meio da mata ou na escarpa do morro, dentro do mangue ou sobre a palafita, levada por alguém que tenha a paciência necessária para ensiná-lo a ver de modo diferente.

Não é fácil, porque é longe; muitas vezes, perigoso; de outras vezes, é inútil. Por isso, não é fácil.

Também por isso, a ignorância cresce ao invés de regredir.

Por isso vejo em campanhas, como a atual Campanha da Fraternidade – Fraternidade e Amazônia – Vida e missão neste chão, uma destas oportunidades.

O Brasil tem mais de 70% de católicos (124 milhões de pessoas, ou 73,6% da população segundo o IBGE, 2000). Estas campanhas extrapolam as igrejas católicas e a Amazônia está no inconsciente coletivo da nação. Assim, é lícito supor que, embora já tenham tratado de temas afins (água, índios) poucas são as chances que o povo mais humilde tem de ver baterem à sua porta ensinamentos ambientais traduzidos em sua língua.

Contrariando o meu amigo que falava “o que a metade esquerda do meu cérebro pensa, a metade direita não fica nem sabendo”, eu diria ser urgente que a metade da sociedade que já sabe, ensine a outra metade que ainda não sabe, a fim de que ambas, podendo saber, passem a fazer. (Recado do Cheida)

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