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Foi pro saco

Artigo reeditado com comentários da FUNVERDE

Revista Página 22, novembro de 2009

Enquanto países e cidades de diversas partes do mundo coíbem o uso das sacolas plásticas, o Brasil continua longe de encampar a briga

Cresce o cerco às sacolas plásticas, símbolo da conveniência e do consumo. Pelo menos uma dezena de países já proibiu a sua distribuição pelo comércio ou estabeleceu impostos salgados para coibir o seu uso. Em alguns deles, sua venda pode até dar cadeia.

“Sacolas de plástico fino, utilizadas uma única vez, sufocam a vida marinha e deveriam ser banidas ou progressivamente eliminadas em todos os países”, declarou recentemente Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). “A sua fabricação simplesmente não tem cabimento.”

Qual o tamanho do problema? Imenso. Difícil o cidadão, abonado ou não, que não tenha algumas sacolas plásticas. Pelo menos1 trilhão é consumido anualmente – no Brasil, seriam 12 bilhões, segundo o Ministério do
Meio Ambiente.

Segundo a própria ABRAS – associação brasileira de supermercados são 18 bilhões e segundo a FUNVERDE passa muito dos 20 bilhões, isso sem contar as sacolas de antes do caixa – aquelas do açougue, da salsinha e cebolinha, plástico flexível que vai embrulhando a bandeja com 5 fatias de queijo e presunto e a própria bandeja de frios, plástico usado apenas uma vez e não serve nem para acondicionar lixo como sempre diz o xico tóxico. Veja que não estamos falando de embalagens de fábrica, apenas embalagens do supermercado.

Juntas, as maiores três redes supermercadistas do país, walmart, carrefour e pão de açúcar distribuem 450 milhões de sacolas mês, mas se contarmos o plástico antes do caixa que representa 2 vezes mais plástico então teremos que essas redes distribuem sozinhas quase 1 bilhão e meio de sacos plásticos por mês. Viu por que a conta do MMA não bate, não fecha? Porque a máfia do plástico criou o setor de desinformação, chamado plastivida, que confunde todo um país com informações desencontradas para ninguém saber o tamanho do lixo criado por ela, porque senão um dia eles teriam que se livrar desse passivo descomunal.

Os sacos são um dos principais componentes do lixo urbano, perdendo em número apenas para as bitucas de cigarro.

Eles também representam o maior volume de resíduos encontrados nos oceanos – e, confundidos com alimentos, são ingeridos por toda a sorte de animais marinhos.

O Pnuma estima que 100 mil tartarugas, aves e golfi nhos morram sufocados todos os anos.

O descarte de sacolas aparentemente inofensivas tem um grande impacto ambiental, por dois motivos. O primeiro é que o plástico, como os diamantes, é eterno. Ele pode ser quebrado pela luz do sol em pedaços cada vez menores, mas suas moléculas continuarão por aí por todo o sempre. Segundo, porque sacolas são muito aerodinâmicas. Mesmo aquelas dispostas em aterros sanitários podem ser facilmente arrastadas pelo vento, poluindo a paisagem.

Alguns países – como Bangladesh, China, Tanzânia e Ruanda – saíram na frente na guerra contra as sacolas plásticas e simplesmente proibiram a sua distribuição pelo comércio.

Bangladesh, por exemplo, tomou a decisão em 2002, depois que o governo concluiu que esse tipo de lixo era um dos maiores responsáveis por uma série de enchentes que ocorreram entre 1988 e 1998 e que submergiram dois terços do país. Milhares de sacolas entupiam o sistema de drenagem da chuva. A China decidiu banir as sacolas plásticas finas em meados do ano passado. Graças à decisão, o país, até então maior consumidor global desse produto, reduziu seu consumo nacional de petróleo em 1,6 milhão de toneladas em apenas um ano. Pelo menos 40 bilhões de sacos deixaram de ser produzidos. Itália, França, Israel, Canadá, Botsuana, Quênia, África do Sul e Taiwan estão em estágios variados do processo de banimento.

Está certo que não somos adoradores do deus plástico, ao contrário do xico tóxico, mas entenda o seguinte. Você não usa o petróleo bruto para fazer plátistico. O plástico é produzido com a nafta, um refugo do refino do petróleo, que representa de 3% a 7% de cada barril refinado e que se não for transformado em plástico, será queimado na própria usina, aumentando a temperatudra do planeta, sem ao menos ter tido uma utilidade para a humanidade.

Nosso problema com o plástico é que ele é eterno, por isso apoiamos a tecnologia da oxi-biodegradação – leia mais em centenas de matérias na página da FUNVERDE -, ísto é, ao invés de durar 500 anos o plástico passa a se decompor em 18 meses.

Mas nem o plástico oxi-biodegradável é a solução final para as sacolas de plástico de uso único. A solução final é banir estas sacolas imprestáveis e somente sacolas retornáveis, que podem ser de plástico oxi-biodegradável, desde que, ao contrário das de hoje, que tem espessura de 2 micras, passem a ter espessura mínima de 100 micras, para poderem ser utilizadas por no mínimo um ano e depois descartadas e com este peso passarão a ter valor para o catador e então serão recicladas.

Sacolas retonáveis podem ser feitas de qualquer material, de tecido, de palha, do que se quiser, inclusive de retalhos de roupas que você não usa mais – patchwork -, podem ser também caixas de papelão, carrinhos de feira, enfim, qualquer coisa que você use ao menos umas 500 vezes antes de jogar fora.

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Cidades importantes também estão aderindo a esse esforço. Em março de 2007, San Francisco foi a primeira dos EUA a coibir o uso de sacolas plásticas. A cidade só permite o uso de sacolas de papel confeccionadas
com pelo menos 40% de material reciclado ou que sejam feitas de plástico biodegradável. Nova Délhi proibiu as sacolas no início deste ano, seguindo o exemplo de Mumbai, e estabeleceu uma multa equivalente a
US$ 2 mil para punir os estabelecimentos que desrespeitarem a lei. Usar sacolas não biodegradáveis pode, inclusive, dar prisão. Agora, em agosto, foi a vez de a Cidade do México baixar uma lei similar.

Outros países preferiram estabelecer um imposto específi co. A Irlanda, por exemplo, conseguiu reduzir o consumo de sacolas em 90% desde 2002, graças à cobrança de 22 centavos de euro por unidade distribuída pelo comércio.

Vários varejistas importantes aderiram a essa luta, como o grupo sueco Ikea e o britânico Marks and Spencers – que cobra 5 pence (centavos de libra) por sacola na sua área de supermercados. Segundo a empresa, essa estratégia reduziu o volume de sacolas distribuídas de 460 milhões, em 2007, para
80 milhões no ano seguinte.

O Brasil ainda está bem longe de encampar essa briga. Não proibiu, não estabeleceu impostos. O Ministério do Meio Ambiente limita-se a fazer campanhas com recomendações, como a atual “Saco é um Saco”. Um dos argumentos do ministério para não proibir a distribuição de sacolas plásticas é que boa parte da população depende delas para acondicionar o lixo, já que não pode arcar com o custo de sacos de lixo. O argumento da pobreza até faz sentido. Mas se Ruanda e Bangladesh peitaram as sacolas plásticas, por que nós não?

Foto –  Kevin Krejci

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