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Sacolinhas estão em rota de extinção

Para diretor presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, não há o que discutir: o fim das sacolinhas plásticas é essencial na sociedade do século XXI

“Não há espaço para os produtos descartáveis em uma sociedade que ruma para o desenvolvimento sustentável.”

A população brasileira consome, todos os anos, cerca de 14 bilhões de sacolinhas plásticas descartáveis. Se fossem empilhadas, segundo cálculo feito pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, elas chegariam a 750 km de altura. Trata-se de uma quantidade absurda de lixo, que, para Helio Mattar, diretor presidente da organização, é totalmente desnecessária e, mais do que isso, inadmissível na sociedade do século XXI, que ruma para o desenvolvimento sustentável.

Só a população do estado de São Paulo, antes do banimento das sacolas plásticas de uso único, no início deste mês, usava por meia hora e depois descartava, muitas vezes incorretamente, poluindo o planeta por 500 anos, mais de 30 bilhões de sacolas plásticas de uso único por ano, segundo o presidente da APRAS.

“Não há como construir uma sociedade sustentável com produtos descartáveis. As sacolinhas estão em rota de extinção, dando lugar a alternativas mais duráveis”, afirma Mattar, que questiona o atual padrão de consumo da sociedade: “Você utiliza uma porção de recursos naturais, água e energia para produzir uma sacola que é usada uma ou duas vezes e, depois, vai para o lixo e ocupa espaço nos aterros por anos. Qual a lógica? Não faz o menor sentido”.

Para ele, todos os protestos contra o fim da distribuição das sacolas plásticas descartáveis nos supermercados teriam fundamento, se não existisse uma outra alternativa para armazenar e transportar as compras. Mas não é o caso. “Qual é a função da sacolinha? Por que ela foi inventada? Para levarmos produtos de um lugar para o outro. Para este fim, há várias opções muito melhores, como sacolas reutilizáveis, carrinhos de feira e caixas de plástico e papelão. As pessoas precisam incorporar os produtos duráveis ao seu dia a dia”, diz o especialista.

Para aqueles que afirmam que, com o fim da distribuição das sacolinhas, não terão onde armazenar seu lixo, Mattar tem a resposta na ponta da língua. “A maioria das pessoas sempre colocou o lixo para fora de casa em sacos de lixo e não em sacolas descartáveis. Nada mudou. Mas quem utiliza as sacolinhas para este fim, realmente, vai ter que se reeducar. É uma mudança de hábito necessária. A sacola plástica descartável não foi criada para descartar resíduos”, afirma o especialista, que considera positiva a sugestão que a Apas fez ao governo do Estado de São Paulo para reduzir, temporariamente, o ICMS para as sacolas reutilizáveis e sacos de lixo produzidos com material reciclado. “Qualquer medida que ajude o consumidor a se adaptar à nova realidade é válida”, completa.

Com o banimento das sacolas plásticas de uso único, a reciclagem irá aumentar, porque ninguém gosta de rasgar dinheiro, ninguém quer gastar comprando muitos sacos de lixo e como o lixo reciclável que é o lixo seco pode ser acondicionado em recipientes retornáveis, as cooperativas de reciclagem terão mais material e os recicláveis não irão parar nos lixões e aterros.

Já para quem incorporou o discurso de que os supermercados estão lucrando com o fim da distribuição das sacolas descartáveis porque seu preço está embutido no custo dos produtos, Mattar explica: “O setor varejista é extremamente competitivo. Se os supermercados realmente estão se apropriando dos lucros, isso durará por, no máximo, três meses. Se está sobrando dinheiro, a tendência é que eles baixem o preço de determinados produtos para ganhar vantagem sobre os concorrentes, que, em resposta, também diminuírão os preços. No final das contas, o benefício econômico virá para o próprio consumidor”, esclarece.

Mattar também ressalta os benefícios ambientais do fim da distribuição das sacolas descartáveis: “Redução de emissões, já que lançamos muito CO2 na atmosfera para produzir as sacolinhas, diminuição das enchentes, cidades mais limpas e economia de dinheiro”.

Diminuição do custo do poder público no setor de limpeza, que agora não tem mais que varrer as sacolas das ruas, calçadas, limpar bocas de lobo que ficavam cheias de sacolas plásticas de uso único, causando enchentes, aumento em 10% da vida útil dos lixões e aterros…

Sabe por quê? Com o fim das sacolas plásticas, a quantidade de lixo produzido pela população diminui – lembra da pilha de 750 km de altura? – e, consequentemente, o espaço ocupado nos aterros sanitários também. “Criar essas áreas para armazenar lixo custa dinheiro. Ao reduzir a produção de resíduos, economizamos dinheiro que, se não houver corrupção, pode ser investido em setores como saúde e educação. A sociedade só tem a ganhar com o fim da distribuição das sacolas plásticas”, conclui o especialista.

Fonte – Exame de 11 de abril de 2012

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